Tempo de Mudança e Degradação

Em tempo de mudanças e transformações, de referir o aspeto demográfico pela sua grande importância – o êxodo rural verificado a partir de 1920, “A cidade de Lisboa é o grande polo de atracção das massas populacionais em êxodo rural.” ALBERTO ALARCÃO (1964)*, com um impacto extraordinário e agravado já na década de 50, que de uma forma gradativa, foi ocasionando uma fuga rural, fazendo deslocar desta região mão de obra para a construção e para outras áreas em desenvolvimento, sobretudo para a grande Lisboa, mas também para fora o país; França e Suíça, locais que de uma forma geral e apelativa faziam aspirar a novas condições de vida.

Na Freguesia de Olalhas as aldeias e os lugares viram partir naquelas décadas, muitos dos seus homens e jovens, deixando para trás as mulheres com filhos pequenos e a faixa etária mais idosa. Os terrenos deixaram de ser cultivados de forma tão intensiva como outrora e o pão de cada dia, começou a ser vendido de porta a porta. É incontornável, igualmente, o impacto provocado pela construção da Barragem de Castelo do Bode nesta região, com início em 1946 e inaugurada em 1951. Veio modificar não só o caudal do rio Zêzere, como toda a paisagem costeira, com consequências por vezes trágicas na vida das gentes que ali nasceram, cresceram, criaram família e tiveram de abandonar as suas terras e os seus haveres. A Freguesia de Olalhas pode não ter sido das mais afetadas, mas havia muitos terrenos cultivados nas margens do rio que ficaram submersos. **

A Azenha da Carrisca a única existente na altura na área, pertencente a António Lopes e a seu filho José Lopes nativos e residentes ambos no Alqueidão, servindo toda a Freguesia de Olalhas e arredores, desapareceu com a subida das águas do Zêzere.

Precaveu-se, no entanto, esta família de Moleiros, na pessoa de José Lopes, que durante o período de tempo entre o reconhecimento por parte de especialistas na preparação para a expropriação dos terrenos junto ao rio e o da execução das obras da construção da Barragem, deu inicio ao que viriam a ser as futuras instalações de uma Moagem mecanizada, inicialmente a motor a gasóleo e posteriormente a eletricidade, quando esta chegou à aldeia. ***

 

Um tempo de transformações e mudanças profundas chegou, criando severamente um impacto nas atividades agrícolas em geral, sobretudo relacionadas com a perda da necessidade, cada vez mais agravada do cultivo de cereais e a consequentemente a redução da sua moagem.

 “A partir da década de sessenta, com a implantação das moagens industriais, acionadas a eletricidade ou a motores de combustão, foi alterada por completo a atividade dos moinhos hidráulicos. Estes, começaram a abrandar e muitos a parar, os açudes deixaram de fazer represa, as levadas e os canais começaram a entupir e os rodízios a seco, empenaram e deformaram-se. Assistiu-se, assim a um aumento do número de moinhos abandonados, entrando por isso em estado de degradação e ruinas.”

FRANCISCO SILVA COSTA (2008)

*ALARCAO, Alberto, Êxodo rural e atração urbana no Continente, “Revista ANÁLISE SOCIAL”, Lisboa,1964

** Estas considerações, ainda que pertinentes, carecem, porém de um estudo de análise sobre o assunto, pois foram baseadas em testemunhos orais recolhidos localmente.

*** Testemunhos orais de familiares.

**** SILVA COSTA, Francisco, O papel dos moinhos no aproveitamento hidráulico das águas publicas do rio Ave. Um contributo na perspectiva do património ligado à água, “Colóquio Ibérico de Estudos Rurais”, Coimbra, outubro 23-25,2008.

Fotografia extraída da seguinte publicação:

Sistemas de Moagem, de Veiga de Oliveira, F. Galhano, B. Pereira – 1